top of page

#8 - POR QUE SE COMUNICAR?

  • Foto do escritor: Deixa Eu Pensar
    Deixa Eu Pensar
  • 1 de dez. de 2023
  • 4 min de leitura

Talvez nenhuma entidade consiga representar melhor todas as faces da comunicação do que o deus grego Hermes, patrono dos comerciantes, dos diplomatas, da eloquência, mensageiro dos deuses e venerado tanto por ladrões quanto viajantes.


Sua mãe, Maia, atualmente presente em nosso calendário como representante do quinto mês, Maio, ganhou em Roma o título de deusa da fecundidade e era celebrada exatamente nesse período do ano. A partir de seu nome, surge o termo grego maieutiké, que significa algo como a arte de partejar, ou o ofício de parteiro ou parteira, profissão essa, da mãe de Sócrates.


Sócrates dizia que era também um parteiro como sua mãe, mas que dava a luz ao conhecimento, e assim surgiu o termo Maiêutica Socrática, a arte filosófica de extrair um novo conhecimento de alguém a partir de questionamentos e contradições. E poucos paralelos poderiam ser mais bonitos para triângular esse conceito do que a de Maia parindo a própria comunicação, representada por Hermes.


Um deus que consegue percorrer todos os aspectos que envolvam algum tipo de interação social entre dois ou mais seres, sejam eles mortais ou não. Responsável por transmitir as mensagens dos deuses com veemência, influenciar nas relações políticas com a retórica e ajudar vendedores com persuasão e convicção nas palavras. Conseguia transmitir confiança a viajantes para que fossem “desenrolados” em situações desconhecidas e também passava uma certa malandragem para ladrões, uma vez que ele mesmo era conhecido por seus furtos que enfureciam outros deuses, o que deixa claro aqui, como a comunicação, tão poderosa como é, pode ser direcionada para qualquer lado moral, a depender somente de seu usuário.


Hermes é portador do Caduceu, que é o bastão do arauto, aquele que comunica. De acordo com a mitologia romana, Mercúrio, o representante equivalente ao Hermes grego, jogou seu bastão entre duas serpentes que brigavam e estas se entrelaçaram no objeto de forma amistosa, representando assim a harmonia entre duas forças antagônicas, como o próprio DIÁLOGO, que é construída com duas palavras gregas, DYO, “duas”, e LOGOS, “razão”, assim formando o significado “duas razões”.


Tendo esse conceito em mente, é interessante a percepção de como a comunicação surgiu para ser uma forma de contribuição. Talvez, inclusive, a mais eficaz, apesar de muitas vezes difícil de alcançar.


Em qualquer tipo de interação onde uma informação é transferida de uma pessoa para outra, independente do meio, existe uma contribuição envolvida. Algo a ser adicionado, nunca retirado. A comunicação, quando alcança o seu alvo, se mistura a um conjunto de outras informações já absorvidas para formar algo novo, para complementar, e assim nosso conhecimento vai acumulando, cada vez mais, novas percepções.


A comunicação eficaz, assim como Hermes, busca objetividade e velocidade, não no sentido de ser rápido apenas, apesar do que as asas em seu capacete ou suas sandálias possam querer dizer, mas sim no sentido de assertividade. Fazer com que algo seja entendido de forma completa, sem que haja dúvidas ou que seja passível de más interpretações.


Dessa forma, trazendo de volta a Maiêutica Socrática, conseguimos através dessa assertividade objetiva e simples, parir pensamentos cada vez mais complexos e entendimentos mais completos sobre quaisquer assuntos.


Hermes, com sua desenvoltura e confiança, ensina que a postura de nossa comunicação deve transmitir o que acreditamos de forma autêntica. Que essa transferência de informação entre sujeitos tem mais força quando feita de forma natural, o que não quer dizer que a comunicação não é eficaz quando feita por métodos que não sejam diálogos, muito pelo contrário, o “natural” aqui citado reflete a capacidade de atingir a compreensão do ouvinte por todos os meios naturais que este absorve informação, seja racional ou emocional. E isso é possível através de dezenas de meios diferentes, como relatos, contos, metáforas, imagens, sons, tato e muitos outros.


O importante tanto para Hermes como para Sócrates, era fazer o receptor de sua comunicação entender completamente aquilo que foi passado, para ajudá-lo assim a ter uma nova informação ou ideia, antes desconhecida, e poder inclusive transmitir essa novidade, criando uma teia comunicativa que vai contribuir com diversas outras pessoas.


Talvez possamos concluir que o mais importante quando falamos sobre comunicação é a clareza da mensagem. O que faz muito sentido quando conseguimos interpretar, de fora do nosso ego humano, como a grandeza de toda a natureza se comunica entre si. Todos os seres vivos têm os seus próprios meios de comunicação e conseguem ser muito claros em suas interações. Conseguem, inclusive, sem aparato tecnológico algum, entender a comunicação do mundo de forma assertiva, como eventos climáticos, o que contribui e muito para sua sobrevivência.


Logo, conseguir passar uma comunicação clara e que ajude os receptores a terem uma vida melhor e que os ajude a sobreviver e evoluir, talvez tenha sido o verdadeiro objetivo de Hermes. E se pararmos pra pensar, esse objetivo não é tão difícil de ser alcançado, talvez compliquemos mais do que deveríamos a comunicação que desejamos transmitir, quando na realidade deveríamos tentar ser cada vez mais simples e objetivos, afinal, como já disse o filósofo espanhol, José Ortega y Gasset, “A clareza é a cortesia do filósofo”.

Deixa Eu Pensar | #8 - Por Que Se Comunicar?

Comments


© 2023 por Deixa Eu Pensar

  • Instagram Deixa Eu Pensar
  • Podcast Deixa Eu Pensar
  • Youtube Deixa Eu Pensar
bottom of page