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#7 - SEU PENSAMENTO É SEU?

  • Foto do escritor: Deixa Eu Pensar
    Deixa Eu Pensar
  • 24 de nov. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 30 de nov. de 2023









Já parou para pensar o que é e de onde vem essa voz que fica flutuando dentro de nossas cabeças? Esse monólogo que nunca cessa em jogar palavra atrás de palavra em nossa consciência sem nos pedir permissão. Sempre em um diálogo interno, refletindo, ponderando, planejando, lembrando, criando, assumindo posições, elaborando opiniões.


Essa voz, que chamamos de pensamento, seria o quê exatamente?


Fugindo um pouco da explicação biológica das redes neurais, células cerebrais, neurônios e suas sinapses, vamos aceitar a intangibilidade do pensamento e adentrar um caminho filosófico metafísico, que ainda tenta entender a natureza das psiques e o que há por trás do pensamento.


Podemos começar pelo mais simples: Essa voz é nossa?


Parece uma pergunta boba, mas será que essa voz que está falando dentro de nossos crânios é o que efetivamente somos e que nos define e assim, dessa forma, quer dizer que somos apenas um parasita controlando uma massa biológica e todas as suas funções?


Ou então somos realmente o conjunto corpo e mente, ou seja, tudo aquilo que está ao nosso alcance para controle fisiológico?


Mas não conseguimos controlar o pensamento, conseguimos? Podemos ter opiniões, preferências, gostos, escolher em alguns momentos pensar em algo específico, mas não somos mestres do nosso inexplicável parasita prolixo. Se você prestar atenção, agora mesmo ele vai estar falando e falando e falando atrás do seu ouvido.


Não conseguimos nem mesmo cessar o pensamento. O maior mito relacionado a meditação é sobre o “pensar em nada”, o que de fato é uma tarefa impossível, uma vez que as atividades cerebrais não cessam nunca e também não dariam uma pausa simplesmente porque resolvemos fechar os olhos e respirar um pouquinho mais lento. Sem contar que o próprio suporte meditativo de focar em algo como a respiração, ambiente ou partes do corpo já são por si só atividades “pensadas”. Repetir durante todo o período da meditação que “não vai pensar em nada” já é pensar em algo.


Falando assim, parece cansativo conviver com essa voz incessante, uma matraca cheia de suas próprias verdades que, por sua vez, não se cansa em jogar todas as suas ideias e crenças na nossa cara.


E que dificilmente consegue manter um diálogo focado conosco, seja lá quem nós sejamos, por mais de alguns minutos, e já começa a dispersar, voar por um encadeamento de visões mentais, atrapalhando totalmente a nossa atenção.


Afinal, enquanto escrevia esse texto e esse segundo (ou primeiro) Vinicius ditava as palavras para que fossem digitadas, quantas vezes essa entidade, que faz morada no topo

da minha cabeça, não tentou argumentar sobre quaisquer outros assuntos que nada tinham a ver com a tarefa em questão? Eu lhes digo: muitas!


Então, se não temos total controle dos nossos pensamentos, como podemos ter certeza que temos total controle de tudo aquilo que os envolve? Todas aquelas opiniões, preferências, gostos, todos os planos e reflexões. É tudo isso realmente nosso?


Como essas linhas de diálogo são realmente construídas dentro da nossa psique e formam aquilo que vamos ter como padrão de pensamento?


A epistemologia, campo da filosofia que estuda o aprendizado e a busca pela verdade, vai abordar de diversas formas essa construção, na maioria das vezes relacionando o nosso estado pensativo atual a uma cadeia de experiências passadas, estímulos sofridos, emoções sentidas, culturas absorvidas e relações vividas.


Tudo isso vai culminar numa linha de pensamento que só você ouve desse bichinho que está aí, agora, falando sem parar, provavelmente sobre o assunto que estamos refletindo nesse exato momento.


E um ponto interessante sobre essa construção de diálogo interno é o quanto ele não pode estar sendo influenciado por todas as variáveis externas que temos contato no dia a dia. Tudo o que vemos, ouvimos ou lemos. E sempre vale perguntar pro ser que vive em você, se o que ele está cuspindo sem parar como pensamento, é seu mesmo ou de outra pessoa. Inclusive gostos, preferências, opiniões, planos e crenças. É tudo realmente seu ou foi só uma absorção externa que agora fica sendo repetido como verdade?


Para complicar mais, vale a questão: o senso crítico, tão buscado e idolatrado, serve mesmo para ajustar nossos pensamentos? Me parece que pode até servir, mas baseado em quê?


Um ajuste de um estado para algum outro estado necessita de um lastro, algo a se guiar, uma referência. E apesar de hoje termos um avanço enorme em descobertas científicas e esses lastros, em muitas discussões, estarem cada vez mais claros, ainda nos deparamos com muitos assuntos do cotidiano que requerem algum tipo de pensamento que muitas vezes, em termos de sociedade, não possuem essa relação clara. E isso pode ser o suficiente para que os parasitinhas da maioria sejam influenciados pelos parasitinhas de uma minoria mais… carismática (vamos dizer assim).


Talvez seja interessante perceber, com toda essa discussão sobre construção de pensamento, o quanto essa voz que vos fala também tem a capacidade de ouvir, e dessa forma buscar alimentar esses ouvidos metafísicos com estímulos que criem um monólogo um pouco mais crítico, sim, mas com algum lastro numa realidade que você consiga identificar mais como sua do que como a de outros.


Afinal, se a voz não vai mesmo parar de falar, melhor que seja sobre algo que valha a pena ouvir.

Deixa Eu Pensar | #7 - Seu Pensamento é Seu?

 
 
 

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