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#44 - EPIDEMIA

  • Foto do escritor: viniciuscagnotto
    viniciuscagnotto
  • 6 de out.
  • 3 min de leitura
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♫ TAN TANÃAN TÃANÃAN TANANTANTÓN ♫ ♫ TAN TANÃAN TÃANÃAN TANANTANTAN TÃAAN TÓOOOON ♫


— São quatorze horas e trinta minutos, horário de Brasília. O Ministro da Saúde acaba de emitir um alerta nacional sobre uma nova epidemia. A doença, altamente contagiosa, ainda não tem cura conhecida e vem se espalhando com rapidez.


— O que os especialistas chamam de “Epidemia da Liderança” teria começado de forma inofensiva: uma foto de uma garagem, isso mesmo, uma garagem velha, em um subúrbio americano, com a frase: “Tudo começou aqui para Bill Gates. Qual a sua desculpa?”. Devido à velocidade da epidemia, não é mais possível descobrir o paciente zero.


— Após esse primeiro contágio, a epidemia se tornou de larga escala por meio de reuniões diárias, cafés da manhã motivacionais e convenções corporativas.


— Nos últimos dias, a transmissão chegou ao seu nível mais crítico: segundo o Boletim, bastam expressões como “liderar pelo exemplo”, “pensar fora da caixa” e “vestir a camisa” para que dezenas de pessoas sejam contaminadas de uma só vez.


— Um alerta também foi feito em relação ao emoji do foguetinho, geralmente acompanhado da frase “Foguete não dá ré”. Caso receba em suas mensagens algo parecido, entre em contato com o posto de saúde mais próximo imediatamente.


— Especialistas afirmam que o vírus altera a percepção da realidade: os infectados deixam de reconhecer os outros como pessoas e passam a vê-los como “recursos humanos”.


— Além disso, causa alucinações graves: acreditam ser “agentes de transformação” enquanto repetem os mesmos discursos prontos e sem sentido, contradizendo a própria produtividade, que despenca a níveis baixíssimos.


— Fica o alerta para os que ocupam cargos de gestão intermediária, os maiores polos de transmissão. Não mandam o suficiente para mudar nada, mas “inspiram” o bastante para contaminar todos ao redor.


— Hospitais relatam pacientes que, mesmo em febre alta e com ansiedade fora de controle, continuam repetindo frases como “Aqui a gente não tem problema, tem desafio” ou “Eu me reinventei na pandemia”.


— Nosso repórter está agora mesmo com um paciente em estado grave.


Repórter: “Você acredita que pode ser curado?” Paciente: “Não acredito em cura, acredito em jornada. É só mais uma oportunidade disfarçada para eu sair da zona de conforto.” Repórter: “E o tratamento? Vem dando certo?” Paciente: “É desafiador, mas aprendo muito. Estou organizando um workshop para ajudar outras pessoas a encontrarem seu propósito no meio dessa epidemia. Já está no Hotmart, vou te mandar o link.”


— Um fenômeno curioso foi percebido durante os tratamentos: pacientes diagnosticados com o “vírus” insistem em fazer one-on-one com os médicos, pedindo feedbacks construtivos sobre seu desempenho como clientes do hospital.


— A Organização Mundial da Saúde divulgou a seguinte nota: “Nunca vimos nada parecido. É uma epidemia que se retroalimenta com o que nossos cientistas estão chamando de ‘puxa-saquismo mútuo’, em que os infectados se exaltam reciprocamente com mais conteúdos contagiosos.”


— A OMS também informou que o LinkedIn, rede social voltada ao mercado de trabalho, se tornou um dos grandes polos de expansão da epidemia, onde os enfermos publicam textos falsos criados por inteligência artificial para melhorar seu “marketing pessoal”.


A recomendação é evitar a todo custo e, caso você comece a ler alguma publicação que inicie com ‘O que podemos aprender com...’, feche imediatamente o aplicativo.


— O Ministro da Saúde deixou claro que ainda é muito cedo para uma solução definitiva e pede calma a todos que precisam interagir com os infectados.


— Enquanto isso, empresas de consultoria lucram oferecendo supostas “vacinas”: programas de mindfulness, palestras com gritos de guerra e imersões para descobrir o seu propósito.


— Mas os especialistas alertam: essas doses apenas prolongam os sintomas, gerando pacientes cada vez mais imunes à realidade.


— Voltaremos no Jornal Nacional com atualizações sobre a Epidemia da Liderança. Até lá.

Deixa Eu Pensar | #44 - Epidemia

 
 
 

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