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#4 - E ESSA TAL DE VIDA, HEIN?

  • Foto do escritor: viniciuscagnotto
    viniciuscagnotto
  • 3 de nov. de 2023
  • 3 min de leitura








Nascemos, vivemos e morremos.

Não pedimos pelo primeiro; nos esforçamos no segundo; evitamos o terceiro.

E, apesar de ser simplesmente assim, do jeito que é, de termos que aceitar esse roteiro, não podemos deixar de perguntar: pra quê?


Como seres com tempo limitado, que definham e morrem, não poderia ser diferente o nosso questionamento sobre a vida - sua importância, seu objetivo, seu propósito - uma vez que a angústia sobre a morte pode ser encontrada a cada esquina, quando nosso caminho como animais conscientes há de se deparar com inúmeros obstáculos, físicos ou emocionais.


Para lidar com esse mistério, a criatividade humana alcançou patamares retóricos admiráveis, onde conseguiu, até certo ponto, contornar o vazio de uma vida sem explicações. Contos; mitologias; histórias; religiões; a satisfação nos legados; a preocupação com outro ser vivo; a preocupação com uma nação; prazeres; felicidades; lembranças; experiências. Isso tudo e muitas outras “ferramentas” são utilizadas para que possamos vislumbrar uma importância em se estar vivo.


As chamo de ferramentas pois são artifícios que moldam o apego à essa breve passagem de tempo em que permanecemos respirando e que chamamos de Vida.


A brevidade desse fenômeno, ainda inexplicável, traz muitos questionamentos e revoltas. Por que não podemos ficar? Por que aqueles que amamos não podem ficar? Por que somos tão frágeis? Como seria a vida se ela não terminasse?


Para a maioria das questões que formulamos sobre a vida e a morte talvez nunca tenhamos as respostas, então podemos apenas conjecturar teorias, elaborar discussões que vão nos fazer encarar da melhor forma esse evento de partida, dando significância pessoal para o período em que estamos presentes no mundo.


Mas, e se estivessemos presentes para sempre?


A visão de Camus sobre a crença na vida eterna, principalmente a oferecida pela religião e vinculada a dogmas e regras sacras, é que ela é limitante para o ser humano. Ele lança uma crítica aos conceitos do que seria uma boa vida, que muitas vezes são impostos pela nossa cultura e sociedade apenas como forma de controle. Em sua perspectiva, deixamos de viver plenamente quando abdicamos dessa limitação que a vida nos traz para esperar uma “outra” vida quando morrermos.


Logo, entendendo que essa vida é única e que não haverá mais nada além dela, podemos aproveitá-la da melhor forma possível, sem aguardar por promessas especulatórias de mais tempo quando fecharmos os olhos em nosso corpo atual.


A angústia continua existindo, sim, mas ela nos permite experimentar momentos como se fossem os últimos, com paixão e, veja você, propósito. Pois para ele, estar vivo é um presente quando poderia não se estar, e um muito mais significativo quando nos damos conta que esse período em estado de “vivo” é minúsculo em comparação com todo o tempo em que o universo conhecido existe.


Para Camus, seria impossível vivermos plenamente caso fossemos infinitos em vida, pois essas paixões, ou quaisquer que fossem as experiências que vivêssemos, seriam elas as finitas. O valor que damos à vida hoje não existiria. Como poderíamos dar valor a algo que não é escasso se isso é exatamente uma das características que foram construídas em nossas mentes e que atualmente nos define como sociedade?


A vertente que Camus explora é romântica, apesar de toda a crítica social que é sempre muito presente em seus pensamentos. Porém, não podemos deixar de entender que essa linha lógica que exalta a nossa finitude como seres que morrem só poderia ter sido elaborada por um ser que também morre, e não deixa de ser mais uma ferramenta que busca apaziguar as mesmas angústias de sempre.


Afinal, como poderíamos elaborar um raciocínio sobre como seríamos se fôssemos imortais, tendo uma mentalidade mortal? Podemos apenas divagar, mas com menos lugar de fala do que nunca.


Beirando aqui a ficção científica, podemos sim refletir um pouco sobre essas hipotéticas pessoas que não morrem:


Como seriam suas experiências?

Como seriam seus relacionamentos?

Em que tipo de tratados seriam constituídas suas sociedades?

Quais seriam os problemas que enfrentariam?

Quais seriam suas angústias?

Será que se entediariam de tudo rapidamente?

Para quais tipos de experiências dariam importância e propósito?


Um exercício divertido e que no final traz um questionamento bem interessante sobre todo esse constructo do que é uma boa vida a ser vivida antes que as luzes se apaguem:


Será que nossa ânsia em apontar propósitos na vida se dá por realmente existir algo belo, único, especial, cativante e esperançoso em momentos específicos que vivemos ou talvez sejamos apenas seres culturalmente ansiosos e rapidamente entediados que não mais aguentam as, também, belezas de uma vida pacata e livre de ambições sociais?

Deixa Eu Pensar | #4 - E ESSA TAL DE VIDA, HEIN?

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