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#35 - EMPATIA

  • Foto do escritor: viniciuscagnotto
    viniciuscagnotto
  • 21 de jul.
  • 4 min de leitura
Empatia - Demonstração Geométrica Axiomática-Dedutiva
Minha primeira demonstração filosófica à maneira dos geômetras.
empatia

DEFINIÇÕES


  1. Empatia é um exercício contínuo de consciência social, voltado à compreensão de outro indivíduo sem reduzi-lo à própria experiência.

  2. Compreensão é o ato interpretativo pelo qual se busca captar o sentido da experiência do outro, mesmo na impossibilidade de absorvê-lo completamente.

  3. Percepção é o processo pelo qual um sujeito apreende fenômenos externos por meio dos sentidos e da cognição.

  4. Alteridade é a irredutibilidade do outro ao eu, ou seja, a existência de uma subjetividade que jamais pode ser completamente absorvida por outra.

  5. Compaixão é um sentimento que surge diante da dor do outro, sem necessidade de compreender o contexto que a originou.

  6. Julgamento é a formação de uma opinião sobre o outro a partir de um conjunto de preceitos e experiências prévias.

  7. Projeção é a apropriação da experiência do outro como se fosse a própria.

  8. Ética é o exercício consciente de responsabilidade diante da alteridade, sem recorrer a normas externas ou juízos morais fixos.

AXIOMAS


  1. Nenhum sujeito pode acessar diretamente a totalidade da experiência de outro sujeito.

  2. Toda compreensão é mediada por um horizonte interpretativo prévio.

  3. A percepção é sempre situada e parcial, nunca absoluta.

  4. O outro é sempre irredutível ao eu.

  5. O julgamento se instaura quando a abertura da compreensão cede lugar a uma conclusão fixa sobre o outro.

  6. A compaixão pode existir sem compreensão, mas a empatia exige compreensão.

  7. A empatia, como um exercício sem fim, nunca se completa, apenas se aprimora.

  8. A empatia não depende de reciprocidade.

  9. A projeção anula a alteridade ao confundir a experiência do outro com a própria.

PROPOSIÇÕES E DEMONSTRAÇÕES


Proposição 1: A empatia não é um sentimento, mas um exercício interpretativo.

Demonstração: Pelo Axioma 6, a compaixão pode existir sem compreensão, mas a empatia a exige. Ora, se a empatia depende de um ato cognitivo de interpretação e não apenas de uma reação emocional, segue-se que ela não pode ser reduzida a um sentimento.


Proposição 2: A empatia é sempre incompleta.

Demonstração: Pelo Axioma 1, nenhum sujeito pode acessar diretamente a totalidade da experiência de outro sujeito. Como a empatia é um exercício de compreensão (Definição 1), mas essa compreensão é necessariamente limitada (Axioma 3), então a empatia nunca se completa.


Proposição 3: "Eu entendo" (ou qualquer outra tentativa de demonstração de totalidade compreensiva) é uma expressão que pode indicar julgamento, e não empatia.

Demonstração: Pelo Axioma 5, o julgamento ocorre quando a compreensão é substituída por uma conclusão fechada sobre o outro. A expressão "eu entendo" pode indicar que a pessoa acredita ter encerrado a interpretação da experiência alheia. Contudo, pelo Axioma 7, a empatia é um exercício infinito e nunca se fecha. Logo, o uso de expressões como “eu entendo” ou similares pode sinalizar um encerramento onde deveria haver abertura contínua, transformando a empatia em julgamento.


Proposição 4: A empatia depende da consciência da alteridade.

Demonstração: Pelo Axioma 4, o outro é sempre irredutível ao eu. Se não se reconhece essa irredutibilidade, a interpretação do outro será substituída por projeções do próprio sujeito. Como a empatia, por definição (Definição 1), é um esforço de compreensão do outro sem reduzi-lo ao eu, conclui-se que a consciência da alteridade é condição necessária para a empatia.


Proposição 5: A compaixão não é sinônimo de empatia.

Demonstração: De acordo com a Proposição 1, a empatia não é um sentimento e depende de uma interpretação cognitiva voltada à compreensão (Definição 2). Ora, como a definição de compaixão (Definição 5) a estabelece como um sentimento que surge sem a necessidade de compreensão, ou seja, uma ação emocional reativa, segue-se que a compaixão e a empatia são processos distintos.


Proposição 6: A empatia não exige identificação, mas escuta.

Demonstração: Identificar-se com o outro implica ver-se nele, o que pode levar à projeção (Definição 7). Ora, pela Definição 1 e pelo Axioma 4, a empatia exige o reconhecimento da alteridade, que é justamente negada pela projeção. A escuta atenta, por sua vez, permite o acesso à expressão do outro sem confundi-lo com o próprio eu. Como a compreensão (Definição 2) depende dessas informações acessadas pela escuta, conclui-se que a escuta ativa é condição para o exercício empático, e não a identificação.


Proposição 7: A empatia é ética, enquanto a compaixão é afetiva.

Demonstração: A compaixão, por Definição 5, é uma resposta emocional à dor do outro. Já a empatia, por Definição 1, é um exercício deliberado de compreensão que respeita a alteridade (Axioma 4). Ora, um exercício deliberado que busca compreender e respeitar a diferença implica uma posição ética (Definição 8). Assim, a empatia se encontra na esfera da ética, enquanto a compaixão permanece na esfera afetiva.


Proposição 8: A empatia pode existir mesmo em desacordo.

Demonstração: Pelo Axioma 2, toda compreensão é mediada por um horizonte interpretativo prévio. Assim, compreender o outro não exige concordância, mas apenas disposição à interpretação. Como a empatia é um exercício de compreensão (Definição 1), ela pode existir mesmo quando se discorda totalmente do outro, desde que a alteridade (Definição 4) seja respeitada.


Proposição 9: A empatia é um ato unilateral de consciência, não uma troca mútua de compreensão.

Demonstração: Pelo Axioma 8, a empatia não depende de reciprocidade, ou seja, não exige que o outro também exerça empatia em retorno. Pela Definição 1, a empatia é um exercício de consciência social voltado à compreensão do outro. Sendo um exercício e não uma relação de troca, sua validade não depende da resposta do outro, mas da disposição ética (Proposição 7) do sujeito que a exerce. Logo, a empatia é um ato unilateral de consciência e não uma negociação mútua.


Proposição 10: A projeção é um obstáculo à empatia.

Demonstração: Pela Definição 1, a empatia exige compreender o outro sem reduzi-lo à própria experiência. Pela Definição 7, a projeção consiste em confundir a experiência do outro com a própria. Como pelo Axioma 9, a projeção anula a alteridade, e a empatia depende do reconhecimento da alteridade (Proposição 4), conclui-se que a projeção compromete o exercício da empatia. Logo, onde há projeção, não pode haver empatia.


Proposição 11: A empatia não é inerente ao indivíduo, mas uma prática intencional.

Demonstração: Pela Proposição 1, a empatia não é um sentimento espontâneo, mas um exercício interpretativo que exige esforço cognitivo. Pela Proposição 7, ela é um posicionamento ético, ou seja, um ato deliberado de responsabilidade diante da alteridade. Se a empatia exige compreensão (Definição 2), consciência ética (Definição 8) e não se manifesta de forma automática ou instintiva como a compaixão (Proposição 5), então ela não pode ser considerada uma disposição natural ou inata.

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