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#3 - AINDA FAZEMOS FILOSOFIA?

  • Foto do escritor: Deixa Eu Pensar
    Deixa Eu Pensar
  • 24 de out. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de out. de 2023









Acredito que o processo de interesse em filosofia tem um caminho muito parecido para a maioria das pessoas, sejam elas estudantes acadêmicas ou pessoas que são fisgadas por algum pensamento ou filósofo específico.


Você começa tendo contato com algum conceito que está bem relacionado com um ou mais aspectos da sua vida. Geralmente algo simplificado mas ainda impactante, cativante. O interesse nasce e você quer saber mais, afinal parece que aquela sabedoria está falando diretamente com você.


Então você busca mais desses pensamentos, sempre tentando preencher alguma lacuna que hoje te gera questionamentos e anseios sobre a vida ou a rotina que leva.


Você percebe que aquilo que vai consumindo faz sentido e se admira como pensamentos tão antigos ainda são tão presentes nas nossas vidas.


Nesse ponto existe uma separação entre as pessoas que vão querer se aprofundar mais em filosofia histórica e as que já se sentem satisfeitas com essas pílulas de conhecimento mais corriqueiras.


Ao começar a se aprofundar, você vai pular de filósofo famoso para filósofo famoso, entendendo rapidamente o resumo de seus pensamentos. O mais comum aqui é percorrer algum tipo de trajetória entre Sócrates, Platão, Aristóteles e Nietzsche, mas é claro que isso está longe de ser uma regra.


A partir daí os horizontes vão se abrindo e conforme você vai se aprofundando e conhecendo diversas correntes filosóficas, novos filósofos vão tomando o lugar de “seu favorito”.


Essa trajetória aconteceu comigo e chega num ponto que você entende duas coisas:


1) tudo bem ter mais de um favorito, afinal cada pensamento é subjetivo a determinadas experiências e levamos com gente uma mistura de aprendizados que foram passados por diversas pessoas durante nossa vida, somos produto de uma soma incalculável de estímulos; e


2) que tanto já foi pensado que parece que levaria mais de 200 anos para conseguir absorver tudo, e mesmo assim, que ainda há muito para se pensar, por mais que pareça que não.


E então, um questionamento surge em relação a esse tanto ainda a se pensar.

Estamos hoje ainda fazendo filosofia como era feita no passado?


Não questiono a filosofia como o ato de reflexão que existe, e muito, em todas as situações onde duas ou mais pessoas debatem assuntos diversos, dando suas opiniões ou refutando ideias e, assim, elevando seu conhecimento em relação a si mesmas e ao mundo. Questiono a filosofia como mãe de tendências, criadora de vertentes que deixam seu legado por anos.


Muitas estruturas filosóficas foram criadas por pensadores do passado e contribuíram muito para explicar diferentes situações e momentos da civilização, como o Platonismo, o Epicurismo, o Niilismo de Nietzsche, o Existencialismo de Kierkegaard, os pensamentos sobre Ética e Razão de Kant, toda a explicação Espinosista sobre Deus, e muitas outras.


Mas e hoje?

Estamos hoje criando algum tipo de pensamento estruturado que será no futuro uma escola filosófica ou um conceito tão grande quanto os que temos do passado?


Esse questionamento é fruto da estranheza em perceber que grande parte do que se fala sobre filosofia nos grandes meios de comunicação é apenas sobre todos esses pensadores de séculos e milênios atrás.


E longe de mim querer insinuar que os pensamentos que colecionamos de todos esses filósofos famosos tenham perdido valor pelo seu tempo. Como já foi dito, a grande maioria nos iluminou com conceitos que são verdade até hoje. Mas, de alguma forma, parece que muito do que encontramos sobre filosofia atualmente é mais uma reciclagem desses pensamentos antigos do que realmente um novo, surgindo para entrelaçar questões do nosso momento atual de sociedade.


Noventa por cento dos conteúdos de filosofia com que nos deparamos hoje, ou são através de filósofos “pop”, que são mais comunicadores do que criadores de pensamentos - e que têm sim grande importância nessa passagem de conhecimentos milenares para as novas gerações - ou são simplificações de pensamentos para que sejam facilmente sequestrados por discursos corporativos ou motivacionais. E aqui vai 5 segundos de silêncio em nome do pobre Estoicismo.

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Bom, na realidade o Estoicismo não ligaria tanto assim para esse sequestro.


Essa aparente estagnação de pensamentos é preocupante pois indica que possíveis novas ideias de grande valia não estão recebendo a importância que deveriam. Afinal, pensamentos estão sim sendo criados e debatidos a todo momento.

Os filósofos não acabaram, muito menos a filosofia.


Pessoas de muita competência estão criando e tentando espalhar suas ideias, mas muitas vezes não conseguem ter o alcance merecido entre as massas, ainda mais num mundo onde a concorrência por atenção se tornou um mercado por si só.


Pessoas como Jürgen Habermas, filósofo alemão que desenvolveu a Teoria da Ação Comunicativa, que explora as interações através da linguagem em busca de consensos.

Ou Judith Butler, filósofa não-binária estadunidense que questiona a divisão binária de gênero e vem derrubando preconceitos sobre sexo e orientações sexuais.

Paul B. Preciado, filósofo trans espanhol que também discute questões sobre sexualidade e gênero, as relacionando com o movimento liberal capitalista em que vivemos.

Ou Djamila Ribeiro, filósofa feminista brasileira que luta contra o racismo, sempre defendendo o espaço das mulheres negras na sociedade.


Diante desses exemplos, e de muitos outros que podemos encontrar se procurarmos bem, eu diria que a resposta para a pergunta se ainda fazemos filosofia é SIM, o tempo todo.


Mas, infelizmente, esses novos pensamentos tão importantes acabam ficando escondidos, passam batidos muitas vezes até por pessoas que são mais antenadas nesses tipos de estudos.


E o que parece então, é que precisamos aprender a garimpá-los melhor e, sempre que possível, compartilhá-los para conseguirmos não apenas reciclar ideias antigas, mas sim atualizá-las. Trazê-las para o nosso cotidiano, para nossos problemas de hoje, respeitando o contexto social em que nos encontramos e, quem sabe, com mais incentivo à busca de novas perspectivas sobre determinados assuntos, aprenderemos a entender e melhor nos relacionar com nós mesmos, com os outros e com o mundo em que vivemos.

Deixa eu Pensar | #3 - Ainda Fazemos Filosofia?

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