#28 - UMA ANTOLOGIA DE SOFIA - PARTE IV
- viniciuscagnotto
- 26 de mai.
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CONTO 13 - ARISTÓTELES
Esbaforido, ele empilhava pergaminhos como quem ordena roupas por cor e ocasião. Sofia, entediada com o corre corre, se distraia com um dente-de-leão.
"Se tudo tem uma essência fixa, então essa flor nunca deveria voar", disse, soprando dezenas de sementes para longe.
O velho a olhou incrédulo, cansado. Pegou sua pena e começou a anotar.
Ela provocou:
"Mais uma categoria? Ou só uma exceção incômoda?"
CONTO 14 - FOUCAULT
O apito apitou. A matilha toda sentou, como um pelotão. Todos atentos ao bípede com o enforcador na mão.
Sofia, vira-lata das ruas, coçou a orelha e se esparramou pelo chão.
O apito gritou.
Sofia bocejou.
A matilha tensionou.
Os passos se aproximaram e Sofia rosnou. Fuga ágil, escancarando aberto o gradil.
Nenhum outro cão a seguiu.
CONTO 15 - DIÓGENES DE SINOPE
Bolinhas de gude quicando quebravam o silêncio no pátio. Era vez de Sofia.
"Segura aqui meu lanche."
O menino, esfomeado, salivou quando pôs as mãos no sanduíche.
"Ahá! Acertei!"
Quando Sofia se virou, ele já não estava mais lá. Ela foi até o barril.
"Ei, meu lanche"
"Comi", disse o menino, desconcertado, "mas foi pra te ensinar desapego."
CONTO 16 - HYPÁTIA DE ALEXANDRIA
Arrastaram-na pelas ruas como se pecado tivesse corpo. As pedras da fé batiam contra seu crânio, um a um, como dogmas míopes lançados à carne.
"Em nome de Deus", a multidão dizia.
As mãos que antes traçavam órbitas no céu agora escorriam vermelho.
Sofia viu.
Sofia lutou.
Sofia silenciou.
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