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#2 - O QUE É O AMOR?

  • Foto do escritor: Deixa Eu Pensar
    Deixa Eu Pensar
  • 20 de out. de 2023
  • 5 min de leitura








Por que nos debruçamos tanto em tentar definir o significado dessa palavra?

Ora, um sentimento tão profundo, que emerge em nosso íntimo abalando completamente nosso humor, nossas emoções e pensamentos, não deveria ser tão indecifrável.

Afinal, essa experiência humana é tão normalizada quanto o próprio ato de respirar. Há poucas dúvidas quando percebemos o amor em nós ou em outros.


Então, se a grande maioria das pessoas afirma já tê-lo sentido e julgam conhecê-lo tão bem, por que ainda é tão difícil explicá-lo?

Por que é tão fácil declarar que está amando, ao mesmo tempo que parece impossível relatar exatamente qual é a sensação de amar?

E ainda, como podemos ter certeza que o amor é uma constante, algo que é semelhante e identificável em todas as suas manifestações?


Os gregos da antiguidade decidiram que era mais lógico separar esse grande mistério que é o amor em três partes, cada uma explicando um contexto diferente. Então o batizaram com três nomes.


Eros, o desejo, representando o amor carnal, romântico e sexual; Philia, a amizade, representando o amor através da generosidade, da sinceridade, do respeito mútuo; Ágape, que é a tradução de AMOR em grego, representando um amor incondicional maior, um sentimento pleno em relação a vida e a natureza, um amor caridoso.


E, apesar de parecer uma boa primeira categorização para a sua época de origem, se olharmos bem de perto, o mistério continua. Nenhuma resposta às perguntas anteriores são respondidas e Ágape, com toda a sua abstração metafísica, gera mais dúvidas e incertezas do que explicações.


Hoje, mais de dois mil e quinhentos anos depois do surgimento da filosofia, podemos encontrar diversas reflexões e múltiplas novas definições do que é o amor e ainda assim talvez nenhuma consiga descrevê-lo por completo e de uma forma padronizada.


Talvez esse padrão nem exista. Talvez uma explicação concreta nunca seja alcançável e os debates que rodeiam o amor continuem, por séculos, sendo apenas uma guerra de teses e antíteses subjetivas.


Afinal, como definir algo que parece tão óbvio e comum dentro da mentalidade coletiva mas, ao mesmo tempo, nasce de relações tão diferentes entre si?


O amor dentro de um relacionamento íntimo.

O amor de pais para filhos. De filhos para seus pais.

O amor entre irmãos. Entre amigos.

Amor ao seu animal de estimação.

Amor ao seu ofício. Amor em aprender ou em ensinar.

O amor à caridade. À sua casa. À sua rotina.

A um sabor favorito. A um livro. Amor a um hobby.

Amor em estar vivo. Amor em poder refletir sobre o que é o amor.


Para não nos perdermos em uma lista infinita de amores e não cairmos na armadilha de tentar dissecar um a um, talvez seja interessante continuar a reflexão questionando uma definição pré-estabelecida de amor e, assim, ameaçar sua essência só um pouquinho.


Seria o amor realmente um sentimento?


Como poderia, se por observação empírica abrange tantas situações diferentes onde experiências distintas estão envolvidas?


O que realmente queremos dizer quando amamos? Amar alguém não é o mesmo que gostar de alguém, mas em um nível de maior intensidade? Amar não é também respeitar, admirar, querer bem, se sentir seguro, confiar, cuidar, proteger ou desejar? Talvez nem todos os sentimentos descritos estejam presentes em todos os exemplos de amores que possamos pensar, mas é certo que, quando amamos alguém mais de um sentimento acompanha o nosso amor.


E eis que surge uma nova questão: acompanha ou forma nosso amor?


O amor não É por si só.

O amor se forma a partir de um quebra-cabeça de sentimentos que floresce dentro de nós em relação a algo ou a alguém. E é como uma caixinha onde a nossa experiência nessa relação vai jogando suas peças, todas diferentes e cada uma com seu próprio nível de intensidade.


Então, ao que parece, o AMOR é um coringa linguístico usado para expressar um conjunto ÚNICO de sentimentos e reações em relação a algo ou a alguém, mas de forma grande e intensa, como uma hipérbole emocional.


Único, pois não é possível que existam dois amores iguais. Cada amor é individual e precisa estar contextualizado.


A definição do que é o amor para uma pessoa nunca será a mesma para outra, pois envolve um conjunto diferente de sentimentos com seus próprios níveis de intensidade. Conjunto este, que apenas pode ser criado a partir da experiência da própria pessoa, e como ela a absorve e a racionaliza.

E isso não significa que um amor é maior ou menor que outro, apenas que o contexto é essencial em sua definição. Um amor, como pacote de afetos em relação a algo ou a alguém, sempre vai levar em consideração a dinâmica dessa relação. São as experiências que vivemos juntos que definirão quais características esse amor vai possuir.


Logo, uma mãe nunca terá exatamente o mesmo amor por todos os filhos, pois as interações nunca serão as mesmas, uma vez que cada filho é um ser humano diferente com sua própria personalidade.

Um casal que diz que se ama não têm amores iguais um pelo outro, mas sim entendem o amor do outro como uma projeção do que é, na realidade, a explicação do seu próprio amor dentro dessa relação.

Pessoas que têm como preferida a mesma comida não a amam da mesma forma, pois nunca o momento daquela degustação, a qual gerou este amor, será igual para todas.


E já que o amor é uma construção que depende do nosso entendimento de mundo e de como vivemos e sentimos nossas emoções, nunca seremos capazes de experimentar, na íntegra, o amor que o outro sente. Pode muitas vezes nos parecer claro, mas no final, é como a visão, sabemos que uma pessoa está olhando para o mesmo ponto que nós, mas não conseguimos olhar com seus olhos.


E talvez seja por isso que temos tanta dificuldade em explicar o nosso amor. Talvez seja nossa culpa, por tentar adotar um símbolo subjetivo para explicar tantas coisas diferentes de uma só vez.


O “eu te amo” até pode englobar tudo que você sente, mas a única pessoa que conhece todas as peças do seu quebra-cabeça, é você. O que a outra pessoa entende é uma mistura das percepções dela em relação às suas atitudes com as próprias definições do que é amor.


Isso significa que talvez o amor seja um dos maiores problemas de comunicação da humanidade, já que ninguém está falando do mesmo amor quando o declaram.


Ao invés de dizer “eu te amo”, quantas vezes dizemos o que realmente sentimos em relação a outra pessoa?


Quantas vezes você disse para a pessoa que ama que a admira? Ou que a respeita; que ela a faz sorrir; que você se sente bem ao seu lado; que você a deseja; que aprende com ela; que consegue te tirar de um sentimento ruim; que é engraçada; como ela te inspira; que é carinhosa; que anseia por sua companhia; que é agradecido pela atenção e dedicação que ela lhe entrega; que está feliz apenas por ela fazer parte da sua vida?


No final, parece que o amor, como sentimento, é uma convenção que tem mais valor pelo impacto social que causa do que pela sua efetividade em explicar as sensações de uma pessoa e, talvez - apenas talvez - se falássemos mais sobre os sentimentos por trás dessa palavra, perderíamos menos tempo debatendo o amor e poderíamos construir relações mais saudáveis e significativas com tudo e todos que amamos.

Deixa eu Pensar | #2 - O que é o Amor?

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