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#17 - PENSO, LOGO PENSO

  • Foto do escritor: Deixa Eu Pensar
    Deixa Eu Pensar
  • 7 de jun. de 2024
  • 4 min de leitura
Nós somos muito egocêntricos mesmo!

Esse vai ser mais um daqueles episódios cheios de referências e citações dos clássicos do ocidente.


Analisar as bases da filosofia mostra a preocupação que os famosos pensadores de seus períodos tinham em relação ao entendimento dessa consciência humana, que é única no planeta Terra.


Uma preocupação que foi muitas vezes tão intensa a ponto de gerar certezas antropocêntricas muito fortes, causando conflitos de pensamentos que sempre se colocavam como os corretos em relação ao que é esse “pensar”, de onde vem, como funciona, onde dorme, o que come e por quê apenas o ser humano consegue?


Existe um forte viés essencialista nesse debate, que está sempre pronto para colocar o ser humano como um ser além. Como se tivéssemos um mérito inerente a nós simplesmente por sermos o que somos: bichos que conseguem raciocinar.


É interessante perceber que quase 100% dos pensamentos filosóficos, religiosos, moralistas ou mesmo socioeconômicos que sempre foram e ainda são transmitidos, no fundo, tem como base a percepção quase que exclusiva de UM tipo de animal que vive em um planeta com mais de um milhão de formas de vida diferentes.


Afinal “Penso, Logo Existo”, certo?


Descartes estabeleceu sua linha racionalista através da famosa frase “Cogito, Ergo Sum” enquanto buscava uma base inabalável para o conhecimento, algo que resistisse a qualquer dúvida. E ele a encontrou no pensar. Para ele, o simples fato de duvidar de algo ou pensar em algo já prova a nossa existência, mesmo que todos os nossos outros sentidos nos enganem.


Essa certeza cartesiana, elaborada como uma fórmula matemática gerou o que é chamado de dualismo cartesiano, uma separação de mente e corpo, onde a mente é uma substância pensante, imaterial. Colocando a consciência humana em um pedestal, uma essência fixa e superior, isolada do restante do universo.


Alguns anos depois, um filósofo empirista não quis deixar esse pensamento barato.

Hume chegou com pé na porta, dizendo que não temos uma percepção direta do "eu". Para ele, o que chamamos de "eu" é apenas uma coleção de percepções momentâneas, uma série de impressões. Não há uma entidade substancial que pensa, como dizia Descartes, mas apenas uma corrente de experiências.


Nietzsche, muito bem acompanhado da filosofia “Tudo Flui” de Heráclito, crítica o cogito cartesiano e inverte a frase de Descartes para “Existo, Logo Penso”. Era claro para Nietzsche que a existência precede o pensamento. Para ele não existe uma essência fixa e imutável, somos fluxos de forças sempre em transformação.


Ele vai também criticar o antropocentrismo e o essencialismo que colocam a consciência humana como ápice da evolução. Ele vê essa adoração como vã, nos distanciando da realidade mais ampla do mundo natural.


Mas apesar de toda essa contraposição com o “pensar” de Descartes, ainda não é difícil de enxergar como tudo ainda gira em torno de como NÓS entendemos o mundo. E indo mais longe em sua filosofia, vamos encontrar conceitos sobre a superação do homem a partir de uma força que tem origem nele mesmo.


‘superar em si mesmo’!

O que estamos tentando superar, afinal?

Aonde estamos querendo chegar?


Hegel, através da dialética, vai dizer que a consciência humana é um processo histórico e social. A partir de teses e antíteses, uma elevação da compreensão é alcançada. Ele quer demonstrar em sua filosofia que a consciência não é estática, e sim dinâmica e relacional. A realidade e a consciência se moldam mutuamente, evoluindo através da história e das interações sociais.


‘evoluindo’!

O que seria exatamente evoluir a consciência?


O mistério da consciência e da realidade sempre esteve presente em nossa espécie, que é a única que consegue pensar sobre isso, afinal. Sempre estamos tentando dar alguma razão e principalmente sentido, propósito, para sermos esse ser com a exclusividade de conseguir refletir sobre coisas.


Mas por que será que estamos sempre elaborando métodos que dizem respeito a nós mesmos?


Por que não há outra espécie para contrapor?


Por que se não formos tão “especiais” quanto achamos, isso geraria ansiedade e aflições descontroladas?


Por que existem interesses mesquinhos por trás de toda a construção dos pensamentos prevalentes da sociedade que tem o objetivo de estabelecer algum tipo de controle a partir de um falso propósito para uma espécie, em meio a tantas, que tem apenas duzentos mil anos em um planeta que já tem mais de quatro bilhões de anos?


Quem sabe?


O que sabemos é que é possível teorizar fora do espectro do ego. E gostaria de apresentar mais dois filósofos, só mais dois, que tentaram levar mais do mundo em conta quando elaboraram seus pensamentos.


Espinoza oferece uma visão radicalmente diferente da consciência e da realidade. Ele propõe que Deus e a Natureza são uma única substância – "Deus sive Natura". Tudo que existe é uma manifestação dessa substância única. Para ele, a consciência humana é apenas um dos infinitos modos dessa substância. Ele rejeita totalmente o antropocentrismo, enfatizando a interconexão de todas as coisas.


Ele argumenta que a felicidade e a virtude vêm da compreensão e da conformidade com as leis naturais. Uma visão holística nos convida a ver a consciência como parte de um ecossistema maior, onde cada parte é igualmente valiosa.


E pra finalizar as citações, trago Arne Naess, filósofo do século XX, fundador da ecologia profunda.


Naess propõe que todas as formas de vida têm valor intrínseco, independentemente de sua utilidade para os seres humanos. A ecologia profunda propõe reconhecer a interconexão de todos os seres e a viver em harmonia com o ecossistema.


Naess ecoa a visão de Spinoza quando enfatiza que a consciência humana não é superior, mas parte de uma rede complexa de vida. Isso desafia o essencialismo e promove uma ética de respeito e integração com toda a natureza.


Infelizmente, esses tipos de pensamento estão muito longe de serem os mais populares na sociedade em que vivemos. Ele vai de encontro com muitas questões socioeconômicas já estabelecidas e desafiam uma estrutura de poder que não tem tanto interesse assim em deixar o egocentrismo de lado, seja para quem controla esse poder, seja para os que são controlados.


Mas no final, o que vale da consciência talvez seja a habilidade de questionar e abrir portas na mente que atravessam conceitos estabelecidos por outros e percorrem visões mais significativas em relação a tudo que há à nossa volta.

Deixa Eu Pensar | #17 - Penso, Logo Penso

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